sergei-pankejeff-151-gPoderia começar a escrever de diversas formas, uma vez que esse caso é tão extenso, vasto e toca em várias questões pertinentes para tecermos discussões. Ao ler o caso clínico de Freud O Homem dos Lobos deparamos com questões importantes para as nossas reflexões e atuação clínica.

O caso apresenta um jovem adulto atormentado por uma neurose obsessiva, sendo perseguido por lembranças infantis. Para além desse aspecto, deparamos com outras questões ainda pertinentes e cruciais para a Psicanálise, tais como: a escuta clínica de Freud, a questão do diagnóstico em Psicanálise e a formação (ou produção¹) do analista.

O Homem dos Lobos acabou por se tornar o paciente idealmente adequado para Freud expor suas teorias incômodas, isentas de concessões covardes. Há também quem escreva que seria, para Freud, o paciente que lhe permitiu responder à altura a Jung e a Adler no que tange o respeito à sua teoria da sexualidade infantil.

Neste momento, sou obrigada a recortar a minha escrita, ao diagnóstico clínico desse paciente, os efeitos que tanto Freud como o seu paciente deixou para nós, analistas na atualidade. Já nos deparamos com essa questão, quando nos reportamos à paranoia.

Como alguém se torna paranoico? Já nos flexibilizamos anteriormente e nos tornamos mais tênues nas questões diagnósticas, concordamos com Caetano Veloso quando diz que de perto ninguém é normal. Souza (2011) em plena discussão¹¹ sobre Foraclusão Localizada acrescentou com seu tom de voz bem suave que lhe é peculiar a seguinte questão: […] bem se afirmam que de perto, ninguém é normal, eu chego ao ponto de lhes dizer que de perto e nem de longe ninguém é normal.

O caso clínico de Schreber propôs a possibilidade de um sujeito se estruturar em sua própria paranoia utilizando como recurso a atividade de escrita.

Através dessa atividade o sujeito consegue fazer uma prótese¹¹¹, visando à possibilidade da foraclusão poder se conter.

Mesmo que não tenhamos dedicado um texto sobre a escrita de Joyce, ele sempre se faz presente quando tocamos nesse ponto de discussão, pois em sua atividade de escrita Joyce nos faz perceber a seguinte questão proposta por Lacan (2007[1975-1976]), p. 148):

Eis exatamente o que se passa, e onde encarno o ego como corrigindo a relação faltante, ou se, o que, no caso de Joyce, não enoda borromeanamente o imaginário ao que faz cadeia como real e o inconsciente. Por esse artifício de escrita, recompõe-se, por assim dizer, o nó borromeano.

Ao afirmar que a construção freudiana diz respeito muito estreitamente ao lugar estrutural que a escrita terá para Joyce, Rassial (1997, p. 26), parece concordar com Lacan (2007[1975-1976]), quando propõe como hipótese que talvez seja essa escrita quem vem se inscrever para Joyce, não lhe permitindo ficar louco.

Ao citar Joyce, Rassial (1997) faz com que, aos poucos, eu me aproxime de O Homem dos Lobos. Para não ficar avaliando o que Freud errou, muitos autores, apontam o erro de Freud na condução do ato analítico com O Homem dos Lobos, e eu, particularmente, concordo com Rassial (1997) e interessa-me mais pensar que nesse trabalho analítico, Freud teve êxito, pois para que O Homem dos Lobos não caísse em sua loucura, Freud conseguiu que

O Homem dos Lobos ficasse alguém que, durante toda a sua vida, irá se aproximar da loucura, mas que, de uma certa forma, saiu do estado em que vem a Freud, já que ele chega a Freud, eu lembro a vocês, num estado de confusão.(RASSIAL, 1997, p.36)

E afinal, quem era O Homem dos Lobos que chega até Freud com esse estado de confusão? Serguei Constantinovitch Pankejeff nasceu em 06 de janeiro de 1887. Há autores que observam a ligação de Serguei com Cristo. Quinet (2006b) garante que pelo Calendário Juliano¹¹² – sua data de nascimento foi 24 de dezembro de 1886, e esse fator contribuiu para sua posterior identificação com Cristo.

Foto Katrin Obholzer e Sergéi Constantinovich Pankeyeff o Homem dos LobosSerguei¹¹³ viveu 92 anos, e sua morte também aparece em uma data interessante: 07 de maio de 1979. Como podemos observar, é um caso clínico contemporâneo. Outro fato bastante curioso nessa data da morte de Serguei são as coincidências (se é que elas existem em Psicanálise) entre vida – e – morte, entre Freud e Serguei. Freud nasceu em 06 de maio de 1856 – 31 anos antes ao nascimento de Serguei. No mês em que Freud estava para a vida, Serguei estava para morte? E o número sete objetivando mais precisão: morreria Serguei em um número cabalístico? São questões que me motivam a outras escritas.

Vou tentar resumir brevemente algumas partes da história de vida do Homem dos Lobos, para então podermos pensar sobre a condução da análise nesse caso clínico.

Com um ano e meio, Serguei é espectador da cena primitiva do coito a tergo¹² como afirmou Quinet (2006b), às 05 horas da tarde, número esse cinco, hora de suas depressões ulteriores. Ainda com um ano e meio, contrai malária.

Da sua primeira infância até o seu primeiro sonho com os lobos na árvore, na véspera do Natal, sabemos que com pouco menos de 02 anos há uma cena com Gruscha – que em sua fantasia aparecia como uma substituta da mãe – e assim temos o primeiro efeito da cena primitiva, o que para Quinet (2006b) o representa como cópia do pai e revela uma tendência de desenvolvimento na direção que merecerá mais tarde o nome de masculina.

Nessa época, por volta dos dois para três anos, Serguei adquiriu distúrbios alimentares (inapetência) e exatamente quando tem três anos escuta a queixa da sua mãe aos médicos, sobre as suas dores e perdas de sangue: Eu não posso mais viver assim – queixa esta que O Homem dos Lobos repetiu durante o período da angústia no dia em que sujou as calças e também no decorrer de seu primeiro tratamento com Freud e com Brunswick.

Aos 03 anos e 4 meses O Homem dos Lobos passa por um processo de sedução com a irmã, e é ameaçado de castração por parte de Nania, sua babá na época. É nessa fase, que está a origem do que ele chamará mais tarde de meu complexo da irmã. Ainda nessa idade, passa a conviver com uma governanta inglesa e há uma mudança de caráter: maldade.

É com quatro anos que o sonho com os lobos na árvore (na véspera do Natal), considerado por Freud (1996 (1918[1914]) como um traumatismo. É durante um lapso de tempo, seguido esse sonho, que Seguei não podia suportar ser olhado fixamente. Enraivecia-se e gritava: Por que vocês me olham assim?. Todo olhar escrutador lembrava-lhe esse sonho, com a toda a sua característica de pesadelo.

Entre os quatro e cinco anos dão-se o período da angústia, fobia do lobo, do leão, da borboleta, dos pequenos animais, ou como propõe Quinet (2006c), moções sádicas contra esses últimos animais citados. Com pouco antes dos cinco anos possui alucinações do dedo cortado e a da árvore sangrando.

Possui uma forte influência bíblica contada por sua mãe e por Nania¹²¹, cujo principal resultado foi sua identificação com Cristo, que ele suponha poder ter relações sexuais com Deus. É o surgimento dos sintomas obsessivos, da compulsão de pensar (Deus – merda, Deus – sujo/porco) e do cerimonial piedoso, antes de dormir beijava todas as imagens de santo de seu quarto, recitava preces e fazia inúmeros sinais da cruz sobre si mesmo e seu leito, acompanhando o ritual com ordem de respirar: a cada vez que fazia o sinal da cruz, inspirava o Espírito Santo e expirava os maus espíritos, aos quais atribuía seus pensamentos blasfematórios (este último sintoma surgido aos seis anos). Obrigava-se a expirar também quando via mendigos, aleijados, pessoas feias, velhos e miseráveis.

Dos oito até os quinze anos houve o aparecimento dos tiques nervosos (coça o pênis > inchaço > intervenção de um médico > acamado por duas semanas); aos 10 anos há o desaparecimento dos sintomas obsessivos sob a influência do preceptor alemão, porém é o início das crises de depressão que ainda duraram durante o primeiro momento da análise com Freud.

Para Quinet (2006c), é possível acrescentar que essas crises depressivas nunca cessaram. Aos treze anos apresentou problemas no nariz (catarro, glândula sebácea inchada, acne); na escola o molestam e o chamam de Mops¹²².

Muito suscetível com relação a seu nariz, fecha-se cada vez mais em si mesmo. Um colega que contrai gonorreia torna-se objeto de horror para ele. Todo esse quadro servirá de protótipo, algum tempo depois, à sua hipocondria do nariz.

Com 15 anos um médico diagnostica erroneamente uma gonorreia após uma tumefação do seu pênis (provocada por ele mesmo, coçando-se). Ameaça do pai: Você tem relações com mulheres? Quer pegar sífilis? Quer apodrecer?

Aos 18 anos contraí gonorreia de Matrona, jovem camponesa que ele viu à beira de um lago, ajoelhada, lavando roupa. É nessa época que inicia a doença que o levará até Freud.

Quinet (2006b) apontou que desde então ele estava completamente dependente e incapaz de existência, e que as palavras do médico que atendia Serguei nessa época foram:

– é uma forma crônica – que ocasionaram sua primeira crise neurótica… o corrimento crônico desencorajou-o radicalmente e forneceu-lhe a ocasião de pensamentos obsessivos relativos à presença ou ausência dos gonococos. Se estes estivessem presentes, ele estaria perdido. (p. 127).

Quando Serguei estava com 19 anos ocorreu o suicídio de sua irmã Anna, o que o leva a entrar em profunda depressão, com ideias de suicídio.

Freud (1996 (1918[1914])) afirmou ter O Homem dos Lobos sentido apenas um vislumbre de dor. Impôs o luto e com toda frieza pode felicitar-se de ter-se tornado o único herdeiro da fortuna familiar. Estava já há vários anos na sua doença recente. Esta informação, entretanto, faz com que Freud tenha dúvidas por algum tempo sobre o diagnóstico do caso. Freud encontrou um substituto a essa dor nas lágrimas que Serguei derrama por ocasião da visita ao túmulo de um grande poeta.

Aos vinte e um anos, Kraepelin diagnostica Serguei como um psicótico-maníaco-depressivo, como seu pai. Com isso, Serguei possui estadia em sanatório onde conhece Thereza, que será depois a sua mulher. É também com esta idade que ocorreu a morte de seu pai, um suposto suicídio, aos 49 anos, que lhe deixa os bens em testamento, cabendo à sua mãe o usufruto da metade da herança. Nesta época Serguei faz as mais violentas censuras à sua mãe, […] alegando que ela não o amava, que estava querendo economizar às sua custas e que provavelmente queria vê-lo morto a ter que deixá-lo assumir todo o controle sobre o dinheiro. (FREUD, 1996 (1918[1914]), p.82).

freud caricaturaNos anos de 1908 a 1909 Serguei teve suas estadias em sanatórios, até que aos vinte e dois anos conhece Dr. Drosnes, que lhe propõe entrevistas, fala-lhe de Freud e lhe dá remédio para diarreia, o que irá justificar posteriormente as afirmativas de Serguei: Sofro de um mal intestinal que adquiri, infelizmente, devido à Psicanálise (FREUD, 1996 (1918[1914]), p. 84).

Em janeiro de 1910, Serguei aos 22 anos chega a Viena acompanhado pelo Dr. Drosnes e por um estudante de medicina cujo papel era aplicar-lhe clisteres. Segundo Quinet (2006b) Freud descreveu seu estado como resultado de uma neurose obsessiva, tendo evoluído espontaneamente e sarado, deixando sequelas.

Temos como elementos de sua doença a dependência completa e a incapacidade de existência; constipação (identificação com a mãe: perdas de sangue/intestinos); depressão. Além disso, tinha queixas de que o mundo lhe estava escondido por um véu, o qual só rasgava após uma lavagem intestinal, quando as fezes passavam pelo ânus; o véu se volatilizava num sentimento de crepúsculo, de trevas e de outras coisas inatingíveis¹²³. Esse fenômeno do véu pode ter sido um elemento importante no diagnóstico conferido por Kraepelin antes de O Homem dos Lobos ter iniciado sua análise com Freud.

Entre os anos 1910 a 1914 é o tempo em que Serguei encontrava-se em análise com Freud. O Homem dos Lobos tinha 22 anos quando se apresentou a Freud. Acabava de herdar a imensa fortuna do pai, morto dois anos antes.

Trata-se, diz Freud, de um jovem que, aos 18 anos, em consequência de uma blenorragia, teve a saúde abalada, tornando-se completamente dependente dos outros. Estava desadaptado da vida, no momento em que começou seu tratamento analítico. Tivera uma existência mais ou menos normal durante os dez anos que precederam a eclosão do seu estado, e terminara os estudos secundários sem grande dificuldade. Mas sua infância fora dominada por graves distúrbios neuróticos, que se manifestam pouco antes do seu quarto aniversário, sob forma de uma histeria de angústia (fobia de animais) e depois se transformam em neurose obsessiva de conteúdo religioso, distúrbios que se manifestaram, assim como seus derivados, até o seu décimo ano de idade. (LECLAIRE, 2001, p.176).

Ainda segundo Leclaire (2001) apenas essa neurose infantil foi o objeto do trabalho de Freud, com a exclusão da neurose do adulto, quanto à qual ele nos diz somente que a considera como estado que se sucede a uma neurose obsessiva espontaneamente resolvida, deixando sequelas depois da cura.

Freud intitulou seu caso clínico da seguinte maneira: História de Uma Neurose Infantil (1918 [1914]). Ao ser apresentado esse caso, a nota do editor inglês, no segundo parágrafo inicia com a seguinte afirmativa: Este é o mais elaborado e sem dúvida o mais importante de todos os casos clínicos de Freud. Foi em fevereiro de 1910 que o jovem rico russo, de quem o relato trata, dirigiu-se a Freud para ser analisado. (FREUD, 1996 (1918[1914]), p.15)

Sem dúvida, como assinalou Gay (1989) esse caso clínico ressoava ecos de histórias anteriores de Freud. Como Dora, o Homem dos Lobos forneceu a chave para a sua neurose sob a forma de um sonho. Como o Pequeno Hans, ele havia sofrido de uma fobia animal em sua primeira infância; como o Homem dos Ratos, foi por um tempo levado a cerimônias obsessivas e ruminações neuróticas.

Logo ao traçar a avaliação geral do ambiente do paciente e do histórico do caso, Freud (1996) afirmou ser incapaz de fornecer um relato puramente histórico ou puramente temático do paciente em questão; alega não poder escrever um histórico nem do tratamento nem da doença, mas em sentir-se obrigado a combinar os dois métodos de apresentação.

É sabido que não se encontraram meios de introduzir, de qualquer modo, na reprodução de uma análise o sentimento de convicção que resulta da própria análise. Exaustivos relatórios textuais dos procedimentos adotados durante as sessões não teriam certamente qualquer valia; e, de qualquer maneira, a técnica do tratamento torna impossível elaborá-los. Assim, análises como esta não são publicadas com a finalidade de produzir convicção nas mentes daqueles cuja atitude tenha sido, até então, de recusa e ceticismo. A intenção é apenas a de apresentar alguns novos fatos a pesquisadores que já estejam convictos por suas próprias experiências clínicas. (FREUD, 1996 (1918[1914]), p.25)

Com essa pontuação, podemos interpretar Freud (1996 (1918[1914])), por algumas vias: além de nos convocar ao ofício analítico, nos alerta que cabe ao analista ser acompanhado sempre ao exercício da dúvida.

Na verdade, aposta Leclaire (2001) que toda essa escuta clínica de Freud em O Homem dos Lobos é centrada na análise no estudo de um sonho que o paciente teve quando criança, poucos dias antes do seu quarto aniversário, que também estava marcado pelo quarto Natal, uma vez que este nasceu no dia de Natal¹³. É nesse sonho que aparecem os lobos em número de seis ou sete¹³¹, empoleirados numa grande nogueira, diante da qual a janela se abre sozinha. A análise do sonho leva ao problema de cena primária, que teria sido observada pelo paciente, na idade de um ano e meio.

infantilA maior parte dos resultados dessa análise do sonho, assim como o essencial dos elementos que permitiram a reconstituição da neurose infantil foram obtidos por Freud durante os últimos meses de quatro anos de análise, sob a pressão de um término irrevogável, fixado como fim de forçar a resistência e a passividade do sujeito.

Segundo Leclaire (2001) foi assim que Freud, tendo reunido um material de extraordinária riqueza e ordenado cuidadosamente a cronologia dos acontecimentos, deixou que o paciente partisse, curado em sua opinião, antes que a Primeira Grande Guerra estourasse.

Sabemos que Freud o veria novamente em 1919. O Homem dos Lobos retornou alguns meses à análise com a finalidade de curar uma recaída de sua constipação histérica, o que conseguiu. Mas não pôde pagar essa análise.

O que conseguimos saber sobre a continuação da história do Homem dos Lobos vem pelas observações de R.M. Brunswisck. Ela nos diz que, no fim desse período, o Homem dos Lobos – antes milionário – estava sem trabalho e desprovido de qualquer meio de subsistência; sua mulher estava doente e a situação era desesperadora. Ainda segundo Brunswisck, foi nessa época que Freud fez uma coleta para o ex-paciente, coleta esta que se repetiu por seis anos, a cada primavera. Quando, em outubro de 1926, o Homem dos Lobos retomou, a conselho de Freud, um tratamento gratuito com Ruth M. Brunswisck, o que ganhava mal dava para alimentar sua mulher doente e a si próprio, como nos diz a analista. (LECLAIRE, 2001).

Depois de muitas atribulações causadas por graves preocupações hipocondríacas centradas no intestino, e depois alternativamente no nariz e nos dentes, o estado do Homem dos Lobos parecia delicado, no inicio de outubro de 1926.

Ele sofria, escreve R. M. Brunswick, de uma “ideia fixa” hipocondríaca. Queixava-se de que teria sido vítima de um dano causado ao seu nariz pela eletrólise, método empregado para tratar a obstrução das glândulas sebáceas do nariz. Segundo ele, o dano consistiria numa cicatriz, num buraco ou num pequeno fosso no tecido cicatricial, segundo o momento. A linha do nariz ficara para sempre destruída…Como, pergunta, ele o célebre professor X, o mais eminente dermatologista de Viena, pôde tronar-se culpado de um dano tão irreparável? Detestava o professor X de todo o coração, com seu mortal inimigo.
Estava absolutamente desesperado. Disseram-lhe que nada podia ser feito, porque na realidade seu nariz estava perfeito; mas ele não podia mais continuar a viver nesse estado de mutilação irreparável…descuidava-se da vida e do trabalho cotidiano, absorvido que estava, com exclusão de qualquer outra coisa, pelo estado do seu nariz… Sua vida se concentrava no pequeno espelho que levava no bolso, e seu destino dependia do que o espelho revelava ou aquilo que iria mostrar-lhe.
O diagnóstico de paranoia, continua R.M Brunswick, não me parece exigir muitas outras comparações, além daquelas fornecidas pela história do próprio caso. O quadro clínico é típico desses casos conhecidos sob o nome de paranoia de forma hipocondríaca. (LECLAIRE, 2001, p.177-178).

O Homem dos Lobos, também chamado por Escars (2005) o homem dos diagnósticos, é um dos casos clínicos mais avaliados por outros analistas, inclusive pelo próprio Lacan, que faz apontar esse caso clínico como o dilema diagnóstico.

Não vou me ater nessa escrita, como bem apontei no início, ao erro Freudiano. Neste momento, interessa-me pensar o que caracteriza essa operação bem sucedida realizada por Freud, concordando então com Rassial (1997), quando este afirma ser Freud aquele que consegue não alienar Serguei, mas que, ao contrário, vem lhe propor um fio para manter-se em pé.

Ainda seguindo esta mesma tendência, sou convocada como analista a tomar uma posição e apostar ao escrever que Freud fez com Serguei o que ele pôde naquele momento. Para fundamentar minha escrita, retomo Leclaire (2001) quando diz: Quanto ao tratamento, que durou apenas alguns meses e resultou numa transformação espetacular, a autora¹³² afirma não¹³³ ter revelado nada de novo sobre o material infantil. (p.178)

A origem da doença nova, precisa ela, se encontrava num resíduo não resolvido de transferência, resíduo que, ao fim de 14 anos, sob a influência de circunstâncias particulares, serviu de base para uma nova forma da antiga doença.
‘Tivemos apenas’, diz R.M Brunswick, ‘de tratar uma única coisa, um resíduo de transferência para com Freud’, e acrescenta modestamente: ‘Meu próprio papel durante essa análise foi quase insignificante: só agi como mediadora entre o doente e Freud’.
Ao fim desse tratamento, diz ela, o homem voltou a ser o que conhecêramos dele, pela história publicada por Freud: ‘Uma personalidade atraente, de caráter escrupuloso, uma inteligência aguda, dotada de interesses e talentos variados, e de uma compreensão analítica precisa e profunda, que faziam da sua presença um prazer constante.’² (LECLAIRE, 2001, p.178)

Rassial (1997), quando aponta a questão diagnóstica do caso O Homem dos Lobos, tece as seguintes questões:

Me surpreende que nenhum dos nossos inventores de diagnósticos tenha considerado que se tratasse, em paralelo a essa famosa psicose histérica, de uma psicose obsessiva. Porque, de fato, se ficarmos com uma abordagem psicopatológica objetivante, acho que nós poderíamos fazer esse diagnóstico, evidentemente aberrante, de psicose obsessiva (p.37).

Rassial (1997) ainda esclarece que existe toda uma série de elementos que justifica essa escolha que prioriza a obsessão; Freud o faz e o descreve dessa forma, em todo o caso, e Lacan prossegue, mas com muita prudência, porque ele não descarta que esteja além da neurose.

Concordando com a posição de Melanie Klein²¹, Rassial (1997) afirma em relação ao Homem dos Lobos: A neurose obsessiva é apenas um meio de cura dentre os que utiliza o eu, a fim de superar essa angústia psicótica da pequena infância²¹¹. (p. 37).

A neurose obsessiva teria como objetivo curar o estado psicótico que ela recobre e as neuroses infantis comportariam, ao mesmo tempo, mecanismos obsessivos e mecanismos próprios a um estágio anterior ao desenvolvimento. Ao passo em que concorda com Melanie Klein, Rassial (1997) ressalta que a neurose obsessiva adulta, em particular, não é necessariamente a constituição da neurose obsessiva infantil e que há algo para ela fazer passagem.

A questão da estrutura neurótica ou da estrutura psicótica é algo que Lacan (1956), ao evocar o Homem dos Lobos pela primeira vez, diz:

O sujeito não é de modo algum psicótico, ele tem apenas alucinações, ele poderá tornar-se psicótico mais tarde, ele não é quando tem essa experiência vivida absolutamente limitada, nodal, estranha ao vivido de sua infância, completamente desintegrada… nesse momento de sua infância, nada permite pensá-lo como uma esquizofrenia.(p.185)

Rassial (1997) esclarece que nesse momento Lacan ainda não havia produzido definitivamente a sua teoria da psicose; ele a produzirá dois a três anos mais tarde. Isso não o impede de posteriormente obter essa fórmula extremamente complexa, em que há esse fluxo limite não a propósito de estrutura, à questão da estrutura neurótica ou da estrutura psicótica, mas o encontro entre a estrutura do Homem dos Lobos mais tarde e no que concerne essa experiência infantil.

Observa-se no Homem dos Lobos um mecanismo neurótico e um mecanismo psicótico, dessa forma, penso conjuntamente com Rassial (1997), talvez fosse interessante falar em estrutura inacabada para o Homem dos Lobos. Temos com esse caso clínico alguma coisa que é do registro de um inacabamento.

Evidentemente, a ideia que Rassial (1997) defende e que de certa forma compartilho, é que um inacabamento possível é proposto por Freud, ou seja, Freud vai dar sua estrutura²¹² ao Homem dos Lobos. Não colocaria a neurose obsessiva como a solução inventada pelo Homem dos Lobos quando criança, mas colocaria essa neurose obsessiva que vem a se constituir como a operação analítica que irá permitir ao Homem dos Lobos se sustentar. O autor então nos clarifica:

É um ponto de partida que nos faz pensar diretamente no que diz respeito ao conjunto da conduta de Freud no tratamento, se toma como hipótese: que, sem Freud, o Homem dos Lobos teria basculado num estado de confusão bem mais catastrófico do que os estado que lhe permitiu encontrar esses momentos de proximidade com a paranoia, episódios psicossomáticos extremamentes inquietantes e, ao mesmo tempo, a cada vez safar-se antes da catástrofe.
O que salva O Homem dos Lobos nisso tudo é provavelmente aquilo que Freud constrói com ele, porque Freud não o constrói para o Homem dos Lobos. […] a construção de Freud, o alicerce que nos propõe sobre essa história não irá no sentido de uma alienação do Homem dos Lobos, mas no sentido de lhe oferecer um sintoma, oferecer-lhe um meio para manter-se em pé, apesar do que poderia, em sua estrutura, prometer um desmoronamento. Promoter uma partida frouxa²¹³, retomando uma fórmula topológica do seminário o sinthoma. ( p. 36)

Como sabemos, Lacan falou e escreveu bastante sobre O Homem dos Lobos, e Escars (2005) retomou algumas questões pertinentes em sua escrita, quando mais uma vez, nos faz refletir especificamente na questão diagnóstica que transitou por caminhos que não nos permitem ser conclusivos sobre qual seria o diagnóstico definitivo que propõe. Ao retomar Lacan, Escars (2005) nos convocou a revisar brevemente as citações dos diagnósticos que Lacan formulou:

No primeiro Seminário, realizado em 1953-1954, Lacan oferece para O Homem dos Lobos um diagnóstico múltiplo, que incluía tanto as perspectivas freudianas como a de Mack Brunswick: Há – ele dizia ali – uma superposição de um pequeno núcleo histérico, uma formulação infantil de neurose obsessiva e uma estrutura paranoica de personalidade (LACAN, 1986[1953-1954], p. 366).

No mesmo seminário, encontramos duas passagens que aludem ao tema. Quando Lacan analisa a alucinação do dedo cortado e afirma que nesse momento o sujeito não é um psicótico: […] poderá ser psicótico mais adiante, mas no momento não tem essa evidência (LACAN, 1986[1953-1954], p.97). Em outra passagem, meses depois, Lacan (1986[1953-1954]), afirmou: O Homem dos Lobos apresenta o que hoje chamaríamos de neurose de caráter ou também de neurose narcisista. (p. 293-294).

Dois anos depois, no terceiro seminário, em contraponto ao caso Schreber, enumera diversos modos em que o retorno a partir do real pode produzir-se: ou bem […] sob forma esporádica dessa pequena alucinação que Freud relata a propósito do Homem dos Lobos ou bem de modo muito mais amplo, como se produz no caso do presidente Schreber. (LACAN, 2008[1955-1956], p. 98).

Referente a essa passagem, analisou Escars (2005) que a impressão que podemos ter é que há apenas uma diferença de grau entre Schreber e O Homem dos Lobos. Um mês antes, Lacan definiria o episódio do dedo cortado como uma […] alucinação episódica em que se mostram as virtualidades paranoicas do Homem dos Lobos (LACAN, 2008[1955-1956], p.57). Escars (2005), então questiona: Virtualidades paranoicas seria equivalente a pré-psicose?

No décimo seminário aparece uma dupla referência ao Homem dos Lobos: a primeira que me parece assombrosa, menciona o caso como borderline (LACAN, 2005[1962-1963]) diagnóstico cujo sentido não é fácil de elucidar. Já na penúltima lição, ao contrário, Lacan assume uma posição com a qual particularmente concordo, toma o caso do Homem dos Lobos como um exemplo de neurose obsessiva.

Já no décimo primeiro seminário, Lacan considera a psicose do Homem dos Lobos como um acidente tardio (LACAN, 1998[1964], p. 64), qualificação que também não é fácil de compatibilizar com a concepção lacaniana de psicose. Concordando com Escars (2005) pergunto: pode a psicose ser um acidente tardio? Em todo caso, se fosse um acidente, poder ser considerado o caso clínico do Homem dos Lobos estruturalmente uma psicose?

Como podemos perceber, Lacan não disse qual a estrutura do Homem dos Lobos, o que nos permite pensar que também para Lacan a questão diagnóstica não estava definida. Esse problema gira em torno, evidentemente, da noção de Verwerfung.

lacan psicanaliseAo retomar o estudo das psicoses, em seminário dedicado ao tema, realizado em 1955-1956 Lacan começa a adotar esse termo, que extrai dos textos freudianos. Embora o encontre principalmente no capítulo VII do relato sobre o caso do Homem dos Lobos, na verdade só lhe dará um estatuto de novidade ao articulá-lo com a análise que Freud faz em A negação. Lacan define a Verwerfung – que em princípio propõe traduzir como retranchement – amputação ou cerceamento – como o que se opõe à Bejahung como simbolização primordial, ou dita em outros termos, mais heideggeriana, como a condição primordial para que algo do real venha se oferecer à revelação do ser, ou seja: deixado de ser. (LACAN, 2008[1955-1956]).

Segundo Escars (2005), na lição de 11 de janeiro de 1956, a análise é retomada em relação à constituição subjetiva: antes de toda a simbolização, afirma Lacan(2008[1955-1956]), há uma etapa lógica onde pode ocorrer que algo da simbolização não seja levado a cabo. Pode ocorrer algo primordial a respeito do ser do sujeito que não entre na simbolização e seja não recalcado, mas rejeitado. Isto é, para Escars (2005), concordando com Lacan (2008[1955-1956]) existe a possibilidade de uma Verwerfung²² primitiva. Assim, enquanto o que foi submetido à Bejahung terá um destino – poderá ser recalcado e retornar na própria trama simbólica – se algo cair sob a Verwerfung, terá um destino diferente. O que foi cercado ou rejeitado não voltará a ser encontrado na história do sujeito. O fora freudiano é tomado por Lacan como um fora da simbolização. E desse exterior proverá então seu retorno. O não simbolizado, segundo a conhecida fórmula, reaparecerá no real, à medida que o real é definido como um campo diferente do simbólico (LACAN, 2008[1955-1956], p. 170).

A simbolização consequente da Bejahung não é mais pensada somente em termos do ser, mas equiparada à lei, à instauração do Édipo. Assim Lacan vai empregar essa oposição para começar a pensar algo que dê conta da produção de uma psicose, em relação à ausência da função paterna: a foraclusão do Nome-do-Pai.

Então, perguntamos: qual papel tem O Homem dos Lobos nisso tudo? Seguindo Escars (2005) continuamos na mesma linha de pensamento e podemos afirmar que a análise lacaniana do capitulo VII do relato freudiano desenvolveu-se fundamentalmente em 1954, e consiste em articular a aparição do termo Verwerfung com o que se segue no texto: o relato da alucinação do dedo cortado. Embora na argumentação freudiana o relato dessa lembrança venha na verdade assinalar o que Freud pensou como o reconhecimento da castração, Lacan não levou em conta esse argumento, enfatizando a sequencia: depois de falar da Verwerfung, aparece o relato da alucinação.

Lacan recorta três expressões de Freud para fundamentar o sentido que quer outorgar à Verwerfung no texto:
1) Freud diz que o sujeito não queria saber nada da castração, no sentido de recalque. E que para designar esse processo emprega o termo Verwerfung.
2) Na descrição freudiana das três correntes que coexistem nesse paciente em relação à castração, Lacan sublinha a que Er verwarf sie (ele a cerceia, a rejeita, ou foraclui) e ao contrário acerca de que não se enunciara ainda nenhum juízo sobre sua existência (outra conexão com a “A negação”).
3) Algumas páginas antes, Freud esboçava uma diferenciação: Eine Verdrangung, ist etwas als eine Verwerfung (Um recalque é algo diferente de uma desestimação). (ESCARS, 2005, p.126)

Escars (2005) apontou que nessas três expressões Lacan lê que a posição do Homem dos Lobos diante da castração não é de recalque, mas de Verwerfung. E consequentemente o que o sujeito cerceou não voltará a ser encontrado em sua história, se a entendermos como o lugar em que o reacalcado reaparecerá. Não há retorno do recalcado. Trata-se de uma abolição simbólica segundo Lacan (2008[1955-1956]), que implicará um retorno diferente. E é aqui onde toma a sequência como prova: o que não veio à luz no simbólico aparece no real (LACAN, 2008[1955-1956], p.388), quer dizer, na forma de uma alucinação, como a do dedo cortado.

Enfim, a argumentação apresentada no primeiro seminário, em 1953-1954, de que O Homem dos Lobos possui diagnóstico múltiplo é retomada no terceiro seminário para, a partir daí pensar a psicose. De fato, em Schreber, o termo Verwerfung não aparece. Mas se ele extrai o termo do relato do Homem dos Lobos, seria o Homem dos Lobos um psicótico para Lacan? Por momentos, segundo Escars (2005), isso é o que parece.

Porém, o ponto central está em outras questões: qual é a relação entre a Verwerfung e a psicose? Há uma relação de implicação: se houver Verwerfung, haverá psicose?

No texto De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose, Lacan (1998) define a condição essencial da psicose a partir da foraclusão do Nome-do-Pai e o consequente fracasso da metáfora paterna, que apontamos a falha que confere à psicose sua condição essencial, com a estrutura que a separa da neurose. (p.582).

Se o que define a psicose não é a Verwerfung em si mesma, mas sobre o que ela recai, o que determinará o diagnóstico do Homem dos Lobos é se o significante primordial que está verworfen na psicose é ou não equivalente à castração – diz Lacan (1998) não será reencontrando em sua história, o lugar onde o recalcado vem a reaparecer.(p.390).

Ainda Lacan (1998) acrescenta:

Peço – lhes que notem como é impressionante essa fórmula, por não ter a menor ambiguidade – o sujeito não quererá “saber nada disso no sentido do reacalque”. Pois, com efeito, para que ele tivesse que conhecê-lo nesse sentido, seria preciso que isso, de algum modo, tivesse vindo à luz pela simbolização primordial. Mais uma vez, porém, o que acontece com isso? O que acontece, vocês podem ver: o que não veio a luz do simbólico aparece no real. (p.390)

Se assim fosse, afirma Escras (2005), deveríamos falar de psicose. Caso contrário, caberia a possibilidade de pensar em outra estrutura.

Concordo com Escars (2005) quando afirmou que a solidariedade entre o diagnóstico do caso do Homem dos Lobos e o problema do estatuto da Verwerfung é algo que nenhum psicanalista que se reconheça tributário do ensino de Jacques Lacan poderá passar despercebido. É certo que quase necessariamente a discussão sobre essa questão toma como eixo a categoria de psicose e exige se definir sobre ela.

Tanto para mim como para Escars (2005) é interessante comprovar que devido à dificuldade de enquadrar os fenômenos que esse paciente apresenta, Lacan foi pouco taxativo no diagnóstico, ao contrário de muitos autores que, mesmo partindo dos mesmos conceitos, apresentam teses acerca da estrutura clínica sob a qual enquadrar o padecimento do Homem dos Lobos.

Escars (2005) pontuou que os primeiros lacanianos ainda não questionavam sobre isso. Leclaire (2001), por exemplo, pontuou que O Homem dos Lobos teve uma psicose experimental desencadeada em 1926 e curada por Ruth Mack Brunswick. Sustenta a possibilidade de que apesar de produzir essa psicose, o Homem dos Lobos tenha sido um neurótico obsessivo.

Se tomarmos como base os estudos de Leclaire (2001) e as questões desenvolvidas por Escars (2005) temos a possibilidade de revisitar o conceito da foraclusão localizada. O que a cada dia me faz acreditar é que o sujeito não é (e nem pode ser) de estrutura única a todo o momento. O sujeito desliza em seus respectivos registros.

Segundo Escars (2005)

O primeiro que parece se questionar sobre isso é Moustapha Safouan. Numa nota de rodapé de página a um trabalho de 1972, esse autor trata de elucidar que alcance deve ser outorgado no caso do Homem dos Lobos à noção de foraclusão (que ele toma como equivalente a Verwerfung). Diferentemente do que ocorre com Schreber, diz Safouan, ‘aqui a foraclusão não seria uma falha primordial do simbólico’, mas meramente ‘um mecanismo de defesa’, embora em ambos os casos ‘o que está foracluído apareça como se não existisse e seus efeitos no psiquismo se manifestem como os efeitos dessa mesma falha.’
Nessa primeira tentativa de solução de Safouan, fica estabelecido o problema: a Verwerfung no Homem dos Lobos tem o sentido estrutural da foraclusão lacaniana ou é outra coisa? (p.127).

A partir daqui, ainda para Escars (2005), abrem-se diversas posições que tentam dar uma resposta a essa encruzilhada, porém ainda me mantenho na hipótese da não-psicose do Homem dos Lobos. Bem como me motiva outras escritas no que tange as questões das psicoses, pois o que atualmente consigo escutar na clínica, é que não se é psicótico o tempo inteiro, bem como não é, nem se pode ser neurótico a todo o momento.

Ao fazer determinada afirmação, sou abrigada a concordar com Lombardi (1998), que por sua vez, num trabalho de 1987, intitulado A terceira análise do Homem dos Lobos realiza a equivalência entre a foraclusão e a psicose, ao sustentar que poderia haver outras foraclusões além das do Nome-do-Pai. Mas essa declaração teórica na verdade o habilita a desenvolver uma argumentação claramente clínica para defender a tese da não-psicose do Homem dos Lobos. Como o próprio título do trabalho indica, o texto centrará sua análise no tratamento ao que Mack Brunswick se refere em seu artigo de 1928. Não nos esqueçamos da declaração feita pela própria Mack Brunswick que encontramos no texto de Leclaire (2001) a autora afirma não ter revelado nada de novo sobre o material infantil (p.178).

Lombardi (1998) tentará encontrar uma lógica nessa análise, em seus efeitos e limites, resgatando a atuação da analista na direção que impõe ao tratamento. Esta consiste, em primeiro lugar, desmistificar a ideia de que ele é o filho favorito de Freud. Embora parecesse que o “lobo” Freud tinha deposto seu olhar – assim Lombardi (1998) interpreta o primeiro sonho, o dos lobos.

Serguei persistia no que Mack Brunswick chamava de sua dupla técnica de satisfação: acusar Freud pela perda da fortuna e ao mesmo tempo manter a sua posição de filho favorito. Mack Brunswick inflige um duplo ataque ao afirmar para Serguei que ele não era o filho preferido e que o seu problema não era com o professor “X”, diante do qual Serguei sonhava com seu pai mendigo e circunscrito, quer dizer, castrado.

O paciente associa as operações de Freud com o dano em seu nariz, face ao qual Lombardi (1998) apresenta uma hipótese acerca do valor que teria assumido a mutilação imaginada de seu nariz: diferentemente de outros autores, postula que trata-se de assumir a castração como própria para resguardar o Outro (p.73), uma estratégia tipicamente neurótica.

Em outro sonho, Seguei aparece arranhado e no seguinte irrompe a famosa castração alucinada, que remete ao dedo cortado e ao buraco no nariz. Isso, seguindo Lombardi (1998) nos permite suspeitar que gênero de loucura o afeta. Trata-se de uma loucura tal que o leva a alucinar – no seio de uma formação inconsciente – a castração que não é admitida no nível do Outro. Ou seja, a partir do furor científico que afetava Freud, desejando que seu paciente lembrasse de tudo, essa poderia ser a resposta neurótica – do sujeito.

Então podemos observar que para Lombardi (1998) a eficácia dessa terceira análise reside em que:

[…] não só se interprete e elabore a castração do Outro com a queda da identificação do sujeito ao falo, mas se constrói – entre sonhos, poderíamos dizer – o fantasma no nível escópico e se elabora parcialmente a queda do que o sustenta: o olhar transferido ao Outro. O primeiro está em relação às duas intervenções de Mack Brunswick, enquanto o último tem a ver com o valor que o olhar ganha: “ser olhado, resto escópico de um gozo perdido, será para o Homem dos Lobos o que fará o Outro um potencial perseguidor, um lobo, sobretudo quando não houver nenhum brilho fálico para oferecer sedativo a esse ‘mal olho’. É isso que constitui a condição para a vivencia persecutória na qual o olhar não é precisamente agálmico; exige sacrifício. Por isso, a partir da dissolução da identificação ao falo do Outro paterno, o fantasma entra furiosamente em análise: a ferida que Freud mostra, o brilho da lua minguante, os olhos brilhantes dos lobos que ameaçam. E aparece de novo a lembrança: quando criança, não suportava que olhassem para ele. (p.74)

Para Lombardi (1998) é claro que se trata do sacrifício que o obsessivo oferece ao Outro para demonstrar a existência do Deus único.

Lobos - Foto Lisi Niesner - ReutersÉ partir dessa leitura do relato de Mack Brunswick que Lombardi (1998) afirma que o episódio psicótico pode ser entendido como o efeito da análise incompleta de um obsessivo:

[…] a interrupção prematura da análise, principalmente quando se atravessou a angústia anal (desprendimento do sujeito da demanda do Outro) e se relaxou suficientemente a identificação do obsessivo ao falo, deixa como sequela certa tendência […] às vivencias persecutórias que se produze precisamente quando, diante do olhar cedido ao Outro, o sujeito já não tem mais nada para oferecer: nem mais a valiosa massa fecal, nem o brilho do falo ( p.74)

Desta maneira Lombardi (1998) sintetiza os argumentos clínicos pelos quais adere à tese da neurose do Homem dos Lobos:

1) a constituição do álgama no Outro, ligada à 2) resposta do sujeito à interpretação: mesmo quando a interpretação aponta diretamente para a castração do Outro, o efeito sobre o sujeito é tipicamente neurótico: verifica-se com seus sonhos e suas associações. Não se descompensa, mesmo que ative seu sintoma. 3) o inconsciente do Homem dos Lobos – continua – diferentemente de Joyce, nos concerne. Nele reconhecemos a significação fálica que significantes, um olhar, um presente adquirem. 4) partindo de premissa de que é preciso conduzir a análise ao ponto em que se ativa a virtude iconoclasta do desejo – teria acentuado o delírio de um psicótico, teria produzido um efeito de degradação. (p. 74).

Para Lombardi (1998) é o efeito pacificador que induz ao Homem dos Lobos uma estruturação neurótica obsessiva. É valido pontuar que desde então Lombardi modificou sua própria posição em um artigo publicado em 2002, considerou que seria necessário diagnosticar o Homem dos Lobos como uma psicose com obsessões e considera o paciente como um percurso do psicótico compensado de nossos tempos, o que outros autores chamariam de psicose ordinária.

Particularmente confesso que o conceito de psicose ordinária levou-me a ler La psicosis ordinaria de Jacques-Alain Miller, e foi com esse livro que desejei buscar as origens desses termos e acabei por deparar-me com o estudo da paranoia. Desta maneira com este estudo ultrapassei esse conceito do normal ou patológico na clínica psicanalítica. O caso do Homem dos Lobos é paradigma de algo, é precisamente paradigma de caso. E neste momento faço minhas palavras concordando com Escars (2005): o caso na Psicanálise não é, como na Medicina ou no Direito, exemplo de uma regra geral – o particular de um universal – nem levando ao extremo a fórmula do caso a caso, manifestação de algo inefável e único sobre o qual não caberia nenhum modo de formalização.

O caso, um caso, para nós, psicanalistas, é sempre aquilo que em parte descompleta a teoria, que não permite que ela se feche totalmente, que coloca em questão a bússola necessária com a qual nos guiamos. Nesse sentido, não é pouco significativo que o Homem dos Lobos nos leve a questionar os próprios limites da teoria estrutural. E que nos exija alguma produção teórica que não está claro aonde nos levará, mas que sem dúvida deverá ir além das citações sagradas, assim como nos afirmou Escars (2005).

Escars (2005) nos faz refletir algo bastante pertinente e peculiar que tange ao nosso ofício de analista – se temos que escolher entre explicações baseadas em especulações teóricas e explicações baseadas em argumentações clínicas, com toda certeza quem verdadeiramente exerce a clínica psicanalítica prefere sempre a ultima, pois a única certeza da qual podemos ter é que a nossa clínica é a do singular, da escuta precisa de um sujeito.

Continuo a concordar com Escars (2005) quando ele afirmou que a tarefa de tentar fazer O Homem dos Lobos entrar na forma de Schreber, por exemplo é tão inútil quanto patética (p. 137). Precisamente o atípico do caso é aquilo que se trata de escutar e não obturar. E em nossa opinião não é uma psicose o que se escuta, embora sua neurose também não tenha características clássicas (também não entra na forma do homem dos ratos).

Sabemos que a clínica psicanalítica é uma prática do um a um. Mantenho a minha posição inicial ao afirmar que o analista é primeiramente formado em sua análise pessoal e posteriormente em sua prática clínica. Não acredito naqueles que se intitulam psicanalistas apenas²³ porque frequentaram um curso de Mestrado e/ou Doutorado em Teoria da Clínica Psicanalítica. Assim também não acredito naqueles que se intitulam psicanalistas sem ter passado pelo que denominamos de horror de uma análise pessoal. A Psicanálise é uma pratica que só acontece na escuta singular de cada sujeito.

Sendo assim, podemos afirmar, mais uma vez, concordando com Escars (2005) quando então ele avalia o Homem dos Lobos, é na dimensão transferencial, na permeabilidade e nas características de suas análises, onde a própria leitura de seus procedimentos são indicadores de uma dialética que não é da psicose, embora perdurem elementos que resistem a ser incluídos na trama neurótica e continuam, demandando lugar na teoria.

Como bem lembrou Lacan (2008[1955-1956]), ao iniciar a aula do dia 30 de novembro, A vida do psicanalista – como me foi lembrado várias vezes no mesmo dia por meus analistas – a vida do psicanalista não é cor de rosa. (p. 40).

E como se não bastasse afirmar isso, ele é claro em sua comparação do analista no exercício do seu ofício diário com uma lixeira:

A comparação que se pode fazer do analista com uma lixeira se justifica. É preciso, com efeito, que ele engula, durante dias inteiros, coisas ditas de valor seguramente duvidoso, e bem mais do que para ele mesmo, para o sujeito que a ele as comunica. Aí está um sentimento que os psicanalistas, se verdadeiramente ele o é, está não somente habituado desde há muito superar, mas, para dizer a verdade, que ele pura e simplesmente aboliu dentro dele, no exercício de sua prática.
Devo dizer, em compensação, que esse sentimento renasce com toda a sua força quando se é levado a ter que percorrer a totalidade dos trabalhos que constituem o que se chama de literatura analítica. Não há exercício mais desconcertante para atenção científica, por pouco que se deva tomar conhecimento, em um curto espaço de tempo, dos pontos de vistas desenvolvidos pelos autores sobre nossos assuntos. E ninguém parece perceber as contradições tão flagrantes quanto permanentes que são acionadas a cada vez que os conceitos fundamentais intervêm. (LACAN, 1955, p.40)

O Homem dos Lobos, tendo como seu nome oficial Serguei Constantinovitch Pankejeff. Serguei, sintoma da Psicanálise. Serguei sustentado pelo sintoma que lhe oferece e que lhe dá Freud. Mas também, e é uma dimensão que não se pode esquecer. Serguei, sujeito moderno, que é fundamentalmente tomado não só pela História da psicanálise, mas pela História em geral. Para Freud, O Homem dos Lobos foi uma das contribuições mais arrojadas e problemáticas à técnica da Psicanálise. Não devemos desmerecer o seu mérito não só como o pioneiro na técnica psicanalítica, como também da sua escrita e a sua coragem em se expor. Que até os dias atuais nós o revistamos e nos aprofundamos no que ele primeiramente nos desvendou, isso é um fato, mas não desmerece o seu pioneirismo e coragem.

Outro ponto que jamais devemos nos esquecer de perguntar é: quem foi o analista que primeiro escutou O Homem dos Lobos? Freud! Logo, só quem escuta o seu analisante é quem pode ser o responsável pelo seu possível³ diagnóstico. E para Freud o caso clínico que ficou conhecido mundialmente como o caso O Homem dos Lobos nos é apresentado com o seguinte título: História de uma Neurose Infantil.

Texto apresentado no Fórum As Psicoses do Espaço Moebius Psicanálise, em 23/08/2011, e publicado pela Editora
JusPodivm, no livro Paranoias, 2012. 
Clarissa Lago, uma das autoras do livro é Membro Inscrito do Espaço Moebius Psicanálise.

¹ Pontuo a palavra produção, uma vez que em psicanálise discutimos se o que existe de fato é a formação de 
um analista ou um analista que se produz ao de fim de uma análise. 

¹¹ SOUZA, A. Discussões no Fórum de Psicose. Salvador, Espaço Moebius Psicanálise, abr. 2011. 

¹¹¹ Entenda-se prótese, nesse caso, no sentido psicanalítico, aquele sujeito que consegue em seu próprio “nó do R S I” puxar uma “grampo” externo através de uma atividade qualquer, 
quer seja de escrita, música ou direito – Ao tornar-se pessoa pública talvez o sujeito consiga se estruturar e não foracluir. O que Lacan (2007[1975-1976]) denomina de “ego corrigido”. 
Lacan (2007[1975-1976]) chama atenção da seguinte forma: Examinem o nó. Nada mais comum de imaginar que esse erro, essa falha, esse lapso. Por que não poderia acontecer 
de um nó não ser borremeano, de ele ratear? Mil vezes errei no quadro desenhando o nó. Pois bem, o que sugiro é supor agora a correção desse erro. Eis exatamente o que se passa, 
e onde o ego como corrigindo a relação faltante, ou seja, o que, no caso Joyce, não enoda borremeanamente o imaginário ao que faz cadeia com o real e o inconsciente. 
Por esse artifício de escrita, recompõe-se, por assim dizer, o nó borremeano. (p.148).

¹¹² Vigorou na Rússia até 1920, atualmente só usado na Igreja Ortodoxa. 

¹¹³ Em determinados momentos desta escrita reportar-me-ei a Serguei com o seu nome próprio, outras como Freud assim o denominou: O Homem dos Lobos. 
Neste caso, sabemos que ambos os nomes estão se referindo à mesma pessoa, e neste momento da escrita não coube a avaliação dos significantes que norteiam 
o nome completo do caso clínico em questão – o que também motiva-me a posteriores escritas.

¹² Observações do coito dos pais ou da cena entre eles, na qual irá inserir mais tarde a fantasia do “Coito”: posição da mãe identificada em Gruscha e Matrona. 

¹²¹ A babá do Homem dos Lobos.

¹²² Cãozinho de focinho achatado.

¹²³ Interpretado em análise com Freud (1918), esse fenômeno da seguinte forma: ele nascera com sorte, “empelicado”, mas esse sentimento foi varrido pela gonorreia, e isso desencadeou
 o fenômeno do “véu”, o qual equivaleria ao útero materno, e os rasgamentos do véu seria a identificação com a mãe no coito a tergo e com uma criança fecal.

¹³ Dados históricos que até os dias atuais nos deixam com margem de dúvidas, alguns autores apontam o nascimento de Serguei em 6 de janeiro outros especificamente 
no dia de Natal – vimos isso em linhas anteriores dessa escrita.

¹³¹ Retomo uma parte da minha escrita inicial no que tange a data da morte de Serguei, 7 de maio. Há uma repetição do número 7 – dado esse que a história ainda 
não nos dá precisão, mas há algo ainda para ser analisado. 

¹³² Neste caso R.M Brunswick.

¹³³ Grifo meu, buscando salientar que a nova analista que retoma a análise com Serguei, e dá prosseguimento ao processo de análise iniciado por Freud anos antes. 

² Grifo meu: o que me parece características marcantes nos homens paranoicos, descrições essas também encontradas em Schreber, o que acaba por tornar esses sujeitos 
paranoicos casos clínicos interessantes de serem estudados e consequentemente de tê-los em nossos consultórios, porque embora não tenha sido a analista de Schreber 
e de Serguei, é possível se pensar que eles nos servem de uma sustentação teórica. Sabemos que na Psicanálise cada caso clínico é único e singular, mas, em nossos consultórios 
habitam casos clínicos tão interessantes quanto estes e por isso somos impulsionadas a estudar esses casos clínicos Freudianos. 

²¹ Psicanalista que também estudou e escreveu sobre o caso clínico O Homem dos Lobos.

²¹¹ Ao ler determinada afirmação, parece-me supor que o neurótico obsessivo vem ser a psicótico que “deu certo”. Entre as aspas tange ao sentido do que a sociedade moral
 avalia entre o certo e o errado. Com isso não estou afirmando que é um erro ser psicótico. Faço das minhas palavras as de Lacan 2008[1955-1956] “não se torna louco quem quer” (p.24). 

²¹² E como sabemos, Freud estruturalmente era um “bom obsessivo”.

²¹³ No original, en floche, termo que designa, por exemplo, o fio de seda quando não é torcido, resultando num tecido molengo, frouxo. 

²² Lacan, na aula de 11 de janeiro de 1956, explica detalhadamente esta passagem: “Na relação do sujeito com o símbolo, há possibilidade de uma Verwerfung primitiva, ou seja, 
que alguma coisa não seja simbolizada, que vai se manifestar no real. A categoria do real é essencial ser introduzida, ela não pode ser negligenciada nos textos freudianos.
Eu dou a ela esse nome enquanto ela define um campo diferente do simbólico. É somente a partir daí que é possível aclarar o fenômeno psicótico e sua evolução. 
Ao nível dessa Bejahung pura, primitiva, o que pode realizar-se ou não, estabelece-se uma primeira dicotomia – o que teria sido submetido à Bejahung, à simbolização primitiva, 
terá diversos destinos, o qual cai sob golpe da Verwerfung primitiva terá um outro.” (LACAN, 2008[1955-1956], p.100).

²³ Grifo meu, porque desejo deixar claro que não sou contra os Programas de Pós-graduação, muito pelo contrário, sabemos que aqui no Brasil há Programas extremamente sérios
 e escrupulosos em suas respectivas seleções e andamento, porém, ao cursar determinado programa, não significa que o mestrando ou doutorando seja também psicanalista. 
Psicanalista é aquele praticante da Psicanálise em seu ofício diário. Um mestrando ou doutorando desses Programas pode apenas conhecer em parte a teoria psicanalítica.

³ Ressalto a palavra “possível”, uma vez que para a Psicanálise a questão diagnóstica sempre é uma questão pertinente a ser discutida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Written by Clarissa Lago

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