Mas é carnaval… …seja você quem for…

Gostaria muito de acreditar nas felicidades alheias, vibrantes, pulsantes e outras coisas mais que o carnaval produz em algumas pessoas.

carnaval mascara fantasia

Todo Reinado de Momo a música de Chico Buarque não me saí da cabeça… é um baile de máscara; a voz masculina começa a perguntar: “Quem é você”? A voz feminina responde: “Adivinha se gosta de mim” …ainda que siga um coro onde respondem: “Hoje os dois mascarados. Procuram os seus namorados. Perguntando assim:” – os “supostos namorados” da música, embora teçam inicialmente um diálogo, ao fim da canção já não temos mais a certeza de que são mesmos namorados.

Talvez seja essa a grande sacada de Chico. Saber que o amor, no Carnaval ou nos demais dias do ano, é um verdadeiro baile de máscaras.

A mulher sempre não-toda, é a mascarada do sexo, e o homem? Penso que em Psicanálise, não devemos falar em gêneros, mas talvez de posições que os sujeitos ocupem na dinâmica do sexo. Desta forma, tomada pela teoria das pulsões desenvolvida por Freud em 1915 – até os dias atuais ao relermos e estudarmos – alguns autores do século XXI chegam ao ponto de afirmar: “que a teoria das pulsões, bem como a teoria do inconsciente ‘está para a Psicanálise assim como a Anatomia e a Fisiologia estão para a Medicina’”. (DUNKER, 2013, p.155).

psicanalise mascara carnavalE nessa trilha pulsional – podemos refletir: “É pelas máscaras que a repetição se constitui”, afirmou Garcia-Roza (2003); é como um disfarce. As máscaras não encobrem senão outras máscaras, o que faz com que não haja um primeiro termo da repetição, mas que a própria máscara seja o sujeito da repetição.

Torna-se válido pontuar que a repetição não é uma representação, não representa uma coisa. E sim, significa algo, a repetição é em essência, de natureza simbólica.

Concordo com Garcia-Roza (2003); “Aquilo que a psicanálise nos fala é dessa repetição interminável, desse jogo amoroso que constitui a ligação de Eros com um passado reencontrado”. (p.44). O que se repete é o sexual, esclarecendo: a repetição é constituinte do sexual.

Ainda Garcia-Roza (2003) acrescentou, repete-se em um encontro amoroso que, em si mesmo, já é máscara. E após essa afirmação o autor pontuou: “a repetição alimenta a pulsão de morte”. (p.45).

Da pulsão de morte, não há como o sujeito escapar, Chico Buarque, antecipa: Nesse baile de máscaras, mesmo um casal que se ame, com tantas diferenças: Um encontro de uma Columbina com um Pierrô…. é fantástico! A Columbina encontra um seresteiro, poeta, cantor, que tem um pandeiro, nada em dinheiro e de forma modesta afirma que nasceu para sambar. Mas… será que tudo isso é verdade?

Na dinâmica dos sexos, em psicanálise não acreditamos no acaso, mas sim em uma repetição: Pergunta-se: O que dessa Columbina, está nesse Pierrô?

O amor é uma aposta sem nenhuma garantia. O desfecho final dessa “Noite dos Mascarados”, …é o não–saber, desejam esperar a festa acabar? Por quê? E por fim incluem “Deus” na história.

O que “Deus” tem haver com isso? Um encontro amoroso? …é fantasia… talvez nisso a psicanálise conforte: A questão não está nem na Colombina, muito menos no Pierrô, mas sim, o que a psicanálise permite ao sujeito.

O que a psicanálise permite ao sujeito é ele poder se responsabilizar por suas próprias histórias. Frequentar este baile – o carnaval – tendo a possibilidade de escolher uma máscara que seja mais confortável …porque amanhã… tudo volta ao normal, “seja você quem for”

blog da psicanalise carnaval pierrot e colombina
Referências:

BUARQUE, Chico. Noite dos Mascarados, 1966. In: http:// http://letras.mus.br/chico-buarque/45153/. Acesso em 16 de fevereiro de 2015.
DUNKER, C. I.L. Uma Gramática para clínica psicanalítica. In: FREUD, Sigmund. As pulsões e seus destinos. In: Obras Incompletas de Sigmund Freud; tradução Pedro Heliodoro Tavares. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.p.135 – 157.
FREUD, Sigmund. Os Institutos e seus Destinos (1915). In: Obras completas, volume 12: Introdução ao Narcisismo: ensaios sobre a metapsicologia e outros textos (1914 – 1916)/ Sigmund Freud; tradução e notas de Paulo César de Souza – 1ª ed. - São Paulo: Companhia das, 2010, p.51 – 81.
GARCIA – ROZA. A Repetição e as Máscaras. In:GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Acaso e Repetição. – 7ª ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003, p.44 – 52.

Written by Clarissa Lago

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