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Parricida? Por que o incômodo?

Confesso que fiquei sem entender o incômodo de alguns ao assistirem o último capítulo da novela Império, no que tange a questão do assassinato ao pai.

A pergunta que não quer calar: Por que o incômodo?

morte comendador jose alfredo imperio

Muito antes de Sexta-feira, 13 de março, já havia saído em vários sites, blogs, etc, o fim da novela. E não houve alteração de absolutamente nada. O autor foi coerente ao reescrever uma tragédia Grega para a teledramaturgia no horário nobre.

Aguinaldo Silva deve ser um bom leitor de Sófocles e provavelmente deve ter sido capturado por essa universalidade confirmada pelo “efeito arrebatador” da tragédia através dos séculos.

Édipo Rei é uma obra prima, duas questões são levadas em consideração: O destino que leva Édipo a realizar, à sua revelia, os dois crimes máximos da humanidade:

1. O assassinato do pai;
2. O incesto com a mãe.

novela imperio globo ze e pedroAmbas questões vivenciadas por José Pedro (Caio Blat), ainda que na novela Império apareceram em ordem invertidas. Ao longo de toda novela, o personagem em questão mantinha com sua mãe de forma inconsciente, uma relação incestuosa, vindo inclusive desde a adolescência a namorar com uma prima, Amanda (Adriana Birolli), que por sua vez fisicamente é a cópia da sua mãe Maria Marta (Adriana Birolli – 1ª fase e Lília Cabral – 2ª fase).

Que outro fim haveria de ter a novela Império para o Homem de Preto, o Comendador José Alfredo de Medeiros (Alexandre Nero)?

O fim foi esse que Aguinaldo trouxe. Como Sófocles, o autor desta teledramaturgia impôs a cada espectador um retorno do recalcado, o reconhecimento de um destino comum: “Cada espectador, foi um dia, em germe, na imaginação, um Édipo e se apavora diante da realização de seu sonho transposto para a realidade. (…)” (KAUFMANN, 1996, p.137)

Ao Comendador foi reservado esse fim, volto a Freud (1912) em “Totem e Tabu”, localizando: Era uma vez… um pai ‘todo poderoso’, ‘senhor de todas as mulheres’(…) os filhos matam esse pai todo poderoso e o comem; uma culpa terrível abateu-se sobre eles. O pai primitivo, idealizado em pai morto, torna-se a garantia do pacto entre irmãos; mediante a renúncia ao gozo sem limites. Todos têm direito ao exercício da sexualidade, dentro do respeito à regra comum.

Agnaldo Silva autor Império

Diante de determinados aspectos é estabelecido uma Lei Edipiana que de certa forma segundo Freud (1912) organiza a filiação masculina em torno da união indissolúvel do proibido e do desejo.

Aguinaldo Silva ao escrever esse último capítulo colocou na tela uma das maiores fantasias universais. É possível supor que o neurótico não terá coragem de passar da fantasia para a realidade, pois sabe da existência da Lei e das leis. Assim como José Pedro foi preso pagando um preço pelo seu ato. Relembro ao leitor o seguinte ponto: O próprio Édipo pagou seu preço ao furar os próprios olhos – ele mesmo se pune por seus crimes.

Se de forma cuidadosa prestarem atenção ao último capítulo de Império foi isso que aconteceu. “Nada” mais. Agora, a questão de ter mobilizado alguns, só cada um poderá responder do seu próprio lugar.

REFERÊNCIAS:
ÉDIPO, Complexo de. In: Kaufmann; Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: O legado de Freud e Lacan. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1996, p. 153-142.
FREUD, Sigmund. Totem e Tabu (1912-1913). In: Obras completas, volume 11: Totem e Tabu, contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-1914)/ Sigmund Freud; tradução e Paulo César de Souza – 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p.13 – 244.

Written by Clarissa Lago

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